Na
primeira metade dos anos 70, surgiu uma leva de cantores e grupos brasileiros
que adotaram pseudônimos estrangeiros e passaram a gravar músicas em inglês. Na
época, a música internacional no idioma inglês tomava conta do mercado
fonográfico, muito por conta das trilhas sonoras das novelas televisivas. O
sucesso dessas primeiras trilhas internacionais das novelas contribuiu para
difundir este movimento "made in brazil", em que cantores brasileiros
passaram a gravar temas na língua estrangeira para que suas gravações fossem
inseridas nos discos de trilhas internacionais das novelas.
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Para
isso, tiveram que adotar nomes artísticos em inglês. Fábio Júnior, por exemplo,
tinha dois ‘alter ego’: Mark Davis e Uncle Jack. Como Mark Davis, emplacou o
sucesso "Don't Let Me Cry", como Uncle Jack, fez sucesso com a música
"My Baby". Nessa esteira, temos vários brasileiros que embarcaram
nessa onda, alguns se deram muito bem, outros, sumiram completamente da mídia
após o fim do movimento. Aqui estão músicas muito lembradas até hoje como
“Feelings” (Morris Albert), “Me and You”, “We Said Goodbye” (ambas com Dave
McLean), “Hey Girl” (Lee Jackson), “Tell Me Once Again” (Light Reflections),
“I’m Gonna Get Married” (Sunday) e “Pidgeon without a Dove” (Patrick Dimon). Chrystian,
cujo nome verdadeiro é José Pereira da Silva, emplacou em todo o Brasil, a
balada “Don’t Say Goodbye”, em 1974. Seu irmão Ralf, sob o pseudônimo Don
Elliot, cantava covers como “One Day in Your Life” (Michael Jackson) e “My Love
for You” (Johnny Mathis). O falecido Jessé também usava dois pseudônimos:
Christie Burgh e Tony Stevens (com este alter-ego emplacou em todo o Brasil as
baladas "If You Could Remember" e "Flying High"). Michael
Sullivan(nome verdadeiro, Evanilton), estourou com dois grandes sucessos:
"My Life" e "Sorrow". Depois que o movimento acabou,
participou dos Blue Caps e depois dos Fevers. No final dos anos 80, fez muito
sucesso como compositor e produtor em dupla com Paulo Massadas.
“Naquele
tempo era difícil as emissoras conseguirem os direitos de grandes nomes
internacionais, daí essa leva de artistas cantando em inglês ter sido um
achado”, diz Hélio Costa Manso, ex-integrante do grupo Sunday. “Ficávamos no
corredor da gravadora esperando informações sobre o personagem que ganharia o
tema. A música, o arranjo, tudo era composto ali, em um ou dois dias, sob
encomenda”, conta Chrystian. Os depoimentos do Hélio Costa Manso (ele fazia
parte do Sunday e também tinha carreira solo como Steve MacLean) e Chrystian
confirmam a tese de que as trilhas sonoras das novelas foi o que impulsionou
este movimento de cantores brasileiros com pseudônimos estrangeiros a gravarem
músicas em inglês. Boa parte destes artistas eram músicos e cantores
competentes. A maioria vinha do circuito de bailes, como Os Pholhas, Sunday,
Light Reflections (ex-Os Bruxos, da Jovem Guarda) e o Lee Jackson. Outros eram
profissionais de estúdios de gravação, como os Harmony Cats. Quanto ao idioma inglês, aí sim, pesava
contra todos eles as dificuldades do desconhecimento da língua. "As letras
eram compostas por quem não sabia nada de inglês e corrigidas por quem tinha
alguma noção", diz Hélio Costa Manso. Os Pholhas tinham um método original
de compor. Eles tiravam os versos de suas canções de um livro dos anos 30,
chamado Inglês ‘Como Se Fala’. "A gente achava uma frase legal, copiava e
depois tentava emendar com outras do mesmo livro", confessa Oswaldo
Malagutti, ex baixista do grupo. Para não ser desmascarados, os artistas
evitavam fazer espetáculos e se apresentar na TV, o que os prejudicava bastante
do ponto de vista financeiro. "Em 1973, eu estava estourado em todo o
Brasil com a canção Dont't Say Goodbye. Podia ter ganho um bom dinheiro, se não
fosse tão difícil encarar um show ao vivo", diz Chrystian. Pernambucano
radicado no Rio de Janeiro
Um
fato curioso ocorreu com o cantor Ivanilton de Souza Lima (O Michael Sullivan):
em 1975 ele compôs uma linda balada e a intitulou de "My Life". Na
hora de lançar o disco pelo selo Top Tape, teve de escolher um nome
internacional. Abriu a lista telefônica de Nova York e escolheu Michael
Sullivan. "My Life" entrou na trilha sonora da novela O Casarão, mas
Michael continuou a faturar como Ivanílton – ele era vocalista da banda Renato
e Seus Blue Caps. "O chato é que eu cantava My Life com o grupo e tinha de
ouvir das pessoas que a versão da novela era melhor", diverte-se. A mania
dos cantores internacionais made in Brazil começou a decair no início dos anos
80, quando a música brasileira ganhou mais espaço nas rádios. "As
gravadoras sentiram que a longo prazo era mais negócio investir no Martinho da
Vila do que na gente", pondera André Barbosa Filho, integrante do Light
Reflections, que em 1972 vendeu 1 milhão de compactos da música Tell Me Once
Again.
MORRIS
ALBERT - O MAIOR DE TODOS
Muitos
deste artistas sonhavam em fazer sucesso em outros países. Apenas um deles
conseguiu: o carioca Maurício Alberto Kaiserman, aliás, Morris Albert.
"Feelings", canção que compôs e gravou em 1973, está entre as músicas
mais executadas em todos os tempos. Chegou a ganhar versões de Frank Sinatra e
Julio Iglesias. Recentemente o grupo americano Offspring, fez uma releitura
satírica do hit. A carreira de Morris Albert declinou ainda nos anos 70. Depois
de "Feelings" ele ainda conseguiu emplacar mais dois hits nas
paradas, "She's My Girl" e "Conversation". Mas o pior
estava por vir. Nos anos 80, o compositor francês Lou Lou Gasté processou
Morris Albert por plágio, alegando que Feelings seria cópia de uma composição
sua, Pour Toi. Morris perdeu a causa e teve de entregar 3 milhões de dólares a
Gasté. Nunca mais se recuperou do baque.
Hoje, ele vive em Toronto, no Canadá, onde dirige um estúdio de gravação.
Vários
dos artistas daquela época permaneceram em evidência, com seus nomes
verdadeiros ou mantendo os pseudônimos. Michael Sullivan, por exemplo, e até
mesmo o Chrystian, que formou ao lado do seu irmão Ralf (Don Elliot), a dupla
Chrystian & Ralf. Outros retornaram aos seus nomes verdadeiros e
conseguiram alavancar a carreira ainda com mais sucesso, como Fábio Júnior e
Jessé. Mas a grande maioria destes artistas mudaram de ramo, quando este
movimento "made in Brazil" começou a decair. André Barbosa Filho
(integrante do Light Reflections, conforme citado no início), é hoje professor
de rádio e TV da Universidade de São Paulo, USP. "A certa altura,
delirando com o sucesso, chegamos a pensar que poderíamos estourar também no
exterior", relembra ele. "Naturalmente, tudo não passou de
ilusão." O sonho acabou, ou melhor, The Dream Is Over. (RSTONE)
Fontes
consultadas: - Site Teledramaturgia Brasileira
Revista
Veja (Edição de 27/10/1999 - matéria de Sérgio Martins)
Arquivo
pessoal de RSTONE.
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